segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Arame Farpado

Ela caminhava lentamente para seus passos não serem ouvidos, arrastava a trouxa com cuidado atrás de si, a coisa envolvida em trapos ainda tinha leves espasmos e fazia um barulho como um de um sapo coaxando. Ninguém poderia descobrir seu segredo, ninguém poderia saber que aquela trouxa tão imunda e desforme já fora um ser humano. Isso seria uma tragédia,uma desgraça para sua vida amaldiçoada. Ela não fazia por mal, nunca quis ferir ninguém, a primeira vez fora sem querer, estava brincando com um amigo, quando esse se desequilibrou e caiu da ponte; ela tentou segurá-lo, mas ele escorregou; ela ficou vendo os carros passarem por cima do corpo, depois a ambulância chegou e ela sumiu… Ninguém nunca soube. Então se tornou um vício, era como se tudo o que ela tocasse morresse. Mas o pior não era isso; o pior é que ela gostava de ver as coisas morrerem, era tão bom, melhor ainda quando as vitimas reagiam…Ver o medo em seus olhos, a raiva, sentir os golpes que elas davam enquanto morriam, ouvir os gritos e os gemidos, então o silêncio…Ah! aquele delicioso silencio mórbido. Ela não conseguiria viver sem nada disso…Por isso nem tentara fugir de seu “dom”. Encontrara um pequeno campo ao lado de uma indústria de produtos de limpeza. Era perfeito. O cheiro forte encobriria o fedor putrefato dos cadáveres e os tóxicos logo se encarregariam de consumir o que restasse das vítimas. Pegando uma pá detrás de um arbusto, ela cavou outra cova, suas mãos já estavam cheias de calos por esta tarefa repetitiva, já estava bem funda em pouco tempo. Abrindo o saco, ela jogou seu conteúdo dentro da cova, só se sabia qual era a cabeça por causa do monte de cabelos cor de avelã, já que o resto era algo retorcido e vermelho. Ela fez uma careta quando percebeu que um dos olhos grudara em seu sapato, limpou com a pá. Tirou da bolsa o martelo, a arma do crime, que sempre enterrava junto com a vitima; jogou-a no buraco, tampando-o com terra logo em seguida. Acabara, era só isso. Voltou para casa, seus pais ainda estavam dormindo, pegou uma faca no armário, esquentou-a no fogão, levantou a manga do moleton revelando o braço cheio de cicatrizes. Marcou com a faca incandescente mais uma cruz no braço, era seu modo de dizer adeus a mais aquela pessoa que alimentara seu vício. Pegou os documentos da vítima, guardando-os numa caixa de “Sonho de Valsa” que tinha no armário atrás das calças jeans. Olhou o relógio, 2:35 da manhã, fora rápida, ainda dava tempo para mais um… Ela entrou devagar e sem fazer barulho, já estava especialista em quebrar janelas sem ruído. Se dirigiu ao quarto onde o casal dormia, tirou algo da bolsa e segurou firmemente em ambas as mãos,uma luz se acendeu atrás dela. Ela mal teve tempo de olhar, seu rosto foi envolvido por algo que ela reconheceu como arame farpado que lhe cortava e entrava em sua boca. A dor a envolveu, era interminável, o jovem tinha força e a mantinha no chão enquanto puxava e puxava aquele fio cheio de pontas. Via a surpresa e a dor no rosto juvenil dela, devia ter uns dois anos a menos que ele próprio. Não demorou muito para que ele dividisse aquele rosto bonito em dois,o sangue tinha formado uma poça no chão. Ele levou o corpo até um baú em seu quarto, em breve a enterraria ou jogaria em um lago, o que aparecesse primeiro. Escondeu a bolsa dela na antiga caixa de seu playstation atrás das roupas de futebol. Limpou o sangue com o pano de chão,o lavou e o estendeu no varal. Começara há algum tempo, não tinha a menor intenção de matar, mas o ladrão invadira a casa e apontara uma arma para sua irmã, que dormia; ele bateu com um vaso de ferro na cabeça do idiota, batera forte demais e o homem caíra; ele de teve que despedaçá-lo para que coubesse no baú. A partir de então se tornara um vício, algo de que ele precisava, algo louco e insano que o dominava. Ele trancou o baú esperando o amanhecer, voltou a dormir…



Faz muitos anos que esse foi feito, mas sempre achei meio macabro publicar, mas agora está ae.

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